Ao conectar diferentes gerações e estilos musicais, o trap mantém viva a essência contracultural que o rock cultivou há décadas.
Em 2024, o trap se consolidou como uma das maiores forças no cenário musical global. O gênero, que começou nas ruas de Atlanta na década de 2000, hoje domina as paradas de sucesso, marcando presença em playlists, festivais e premiações ao redor do mundo. Combinando batidas pesadas, letras provocativas e uma estética que reflete a realidade urbana, o trap atrai uma audiência cada vez mais diversa, abrangendo jovens de diferentes origens culturais e sociais. A ascensão meteórica de artistas como Travis Scott, Lil Baby e Doja Cat ilustra a amplitude do gênero, que vai além do hip-hop e cruza barreiras estilísticas, influenciando desde a moda até as artes visuais.
Trap e Rock: Parallelos de Rebeldia e Impacto Cultural
O trap e o rock podem parecer gêneros opostos à primeira vista, mas, em termos de atitude e impacto cultural, eles compartilham inúmeras semelhanças. Ambos nasceram como formas de rebeldia — o rock, como a trilha sonora da contracultura dos anos 60, e o trap, como o reflexo das dificuldades urbanas e da resistência contemporânea. Tanto o rock quanto o trap carregam uma carga de provocação e autenticidade em suas letras, abordando temas como alienação, desigualdade social e questões de identidade.
Musicalmente, a interseção entre os dois estilos também é notável. Enquanto o rock se destacou pelo uso de guitarras distorcidas e batidas enérgicas, o trap, com suas batidas de 808 e efeitos de sintetizadores, ressoa com uma intensidade semelhante. Essa sobreposição sonora é evidente em subgêneros como o trap metal, que une a agressividade sonora do metal com as batidas do trap, ou nos trabalhos de artistas como Lil Uzi Vert e Trippie Redd, que frequentemente exploram essa fusão, abraçando distorções eletrônicas e riffs de guitarra para criar um som híbrido.
Assim como o rock, o trap é um veículo para a juventude expressar sua insatisfação com o mundo, rompendo com normas estabelecidas. Artistas de ambos os gêneros desafiam convenções, tanto musicais quanto culturais, moldando tendências e dando voz às frustrações de gerações inteiras.
Colaborações e Fusões Musicais
Nos últimos anos, as colaborações entre o trap e o rock se tornaram cada vez mais frequentes, quebrando barreiras entre os estilos. O rapper Travis Scott, por exemplo, uniu forças com o lendário guitarrista John Mayer em “Astroworld”, enquanto Post Malone e Ozzy Osbourne colaboraram em “Take What You Want”, uma faixa que mescla perfeitamente as influências dos dois gêneros. Além disso, a ascensão de artistas como Machine Gun Kelly, que migrou do rap para um som mais influenciado pelo punk e rock, exemplifica como essas fusões são não só possíveis, mas bem recebidas tanto pelos fãs de trap quanto pelos de rock.
Essa relação vem sendo explorada por artistas que misturam os estilos, e um exemplo recente dessa fusão pode ser visto no novo projeto de Tio Galera, com o lançamento de sua mixtape “Jesus is a Rockstar“.
Tio Galera, conhecido por sua habilidade em mesclar gêneros, reforça a ideia de que o trap é o novo rock, tanto em termos de impacto cultural quanto sonoridade. Em “Jesus is a Rockstar”, ele não só combina elementos do trap, como também faz uso de guitarras, baterias e baixos, instrumentos que tradicionalmente definem o rock. Ao desafiar os limites tradicionais do trap e introduzir elementos do rock, Galera demonstra que esses dois universos musicais podem coexistir e criar algo novo e eletrizante.
O álbum de Tio Galera conta com participações de grandes nomes da cena trap brasileira, como Budah, Duquesa, Duzz, Dudu Mc, Danzo, Young Ganni e outros, destacando-se como um projeto colaborativo que une os diferentes mundos musicais. Essa fusão tem sido cada vez mais bem recebida por fãs de ambos os gêneros, que buscam novas formas de expressão que vão além das categorizações tradicionais.
Capa JIAR – créditos: @zikadasartes
Ouça aqui o álbum Jesus is a Rockstar
O Futuro do Trap e Rock
Com projetos como “Jesus is a Rockstar“, a linha que separa trap e rock continua a se tornar mais tênue. Tio Galera exemplifica essa fusão de gêneros de maneira autêntica, mostrando que o trap pode absorver a energia crua do rock sem perder sua identidade. À medida que essas colaborações e experimentações se expandem, o trap continua a redefinir o cenário musical, exatamente como o rock fez em décadas passadas.
O que vem a seguir? O trap pode muito bem estar moldando o futuro da música popular, levando consigo a essência rebelde e criativa que outrora definiu o rock.
